Trabalho: provedor de sofrimento ou de prazer? (parte 3)


SOBRE O PRAZER DO TRABALHO 

Por Paula Ribas

Trabalhar, Criar e se Divertir – Ócio Criativo 

Em 2000, o sociólogo italiano Domenico de Masi ficou conhecido pelo conceito sobre o ‘Ócio Criativo”, título do seu livro. Até então, a palavra “ócio” tinha uma conotação pejorativa de alguém sem ter o que fazer, como explica em seu livro: ”o ócio pode transforma-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade“. A partir dessa perspectiva,  o sociólogo fomenta sobre a importância de ter tempo para criar e aprender enquanto se trabalha. Para Masi, a dimensão criativa do trabalho significa: “um exercício de sincretismo entre atividade, lazer e estudo, por meio do qual o homem se desenvolve em todas as suas dimensões“. Isto é  trabalhar, se divertir e aprender.

E para se ter tempo com produtividade, a sugestão de Domenico é uma redução drástica na jornada de trabalho, o fim do excesso de procedimentos nas companhias e defende com ardor o trabalho a distância. Esse último item, já é uma realidade, inclusive em empresas, passado 16 anos do lançamento das ideias do sociólogo.


Ser útil ou inútil : você é uma caixa de brinquedos ou de ferramentas?


Outro pensador que nos faz refletir sobre o prazer no trabalho é o educador e escritor, Rubem Alves. Numa de suas crônicas, ele cita um antigo texto de Santo Agostinho com a idéia de que o corpo carrega duas caixas: uma de ferramentas e uma de brinquedos. E que todas as coisas que existem se dividem em duas ordens distintas: a ordem do útil e a ordem do fruir.  O “útil”, como lugar de poder, para tonar o corpo mais poderoso e necessário. Já o “fruir” é a ordem do amor, para desfrutar e amar a coisa pelo que ela é, não servem para nada, apenas para serem gozadas.

Durante a crônica, o educador cita um exemplo que deu para um grupo de idosos com quem conversava sobre ser útil e inútil:

“Então, vocês encontram sentido para suas vidas na sua utilidade… Vocês são ferramentas. Não serão jogados no lixo. Vassouras, mesmo velhas, são úteis. Já uma música do Tom Jobim é inútil. Não há o que se fazer com ela. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que se parecem mais com as vassouras que com a música do Tom… Papel higiênico é muito útil. Mas um poema da Cecília Meireles é inútil. Não há o que fazer com ele. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que preferem a companhia do papel higiênico à companhia do poema da Cecília…




“Trabalho na pós-modernidade? É com propósito!

A ideia de trabalho com propósito nunca sei se está na moda ou se virou uma necessidade. Não se tem um caminho “seguro” para percorrer e se buscar, cada indivíduo constrói o seu enquanto caminha. Em essência o “propósito” é realizar, produzir o que tenha valor, significado e que faça sentido na sua história de vida e, depois, compartilhar.
O trabalho com propósito ainda é um modo que se busca, numa equação de ser produtivo em rede e, ao mesmo tempo, pagar as contas. Nas empresas isso se define como “lucrar fazendo o bem”. Os profissionais teriam o perfil de já viverem o mercado (com experiências traumáticas) ou os nascido na geração X/Y.  Além, de mais sensíveis e adaptáveis `as mudanças no presente/ futuro (que não demora muito para acontecer) e prontidão para o desconhecido.


Enfim, mais um desafio em tempos líquidos.



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