O Estupro Glamourizado




Por Paula Ribas

Mais uma vez o tema do estupro violento contra `a mulher volta de modo mais cruel.  Para mim, como mulher, é mais que indignação. O fato em si é humilhante, sem justificativa para tanta barbaridade. Se não bastasse o fato, tudo isso foi gravado e colocado nas redes sociais.

Antes de pedir punição e justiça, é o mínimo que a sociedade espera do que aconteceu com a jovem de 16 anos, no Rio de Janeiro, quero contribuir rememorando o modo “natural” e , muitas vezes considerado artístico, com que a cultura do estupro está presente em nossas mentes e distribuído aos nossos olhos. Tão sutil e chique, numa foto enorme no aeroporto, em embalagens de produtos caros e nobres, que não nos damos conta. Muitas vezes embalado em luxo, glamour, em pessoas de fina estirpe, gente famosa e cheirosa, “conhecida”, premiada e aplaudida. Sendo assim, com tanto pedrigee damos outros nomes, outras justificativas, mas na verdade estamos naturalizando e nos acostumando com a violência, com a agressão física, moral e psicológica, estamos aceitando passivamente situações de violência contra `as mulheres.

Abaixo alguns exemplos de marcas caras e consagradas, com pessoas que aparentam ser bem sucedidas, poderosas e ricas propagando violência. Pode parecer brincadeira, mas o que fica impresso na pele das modelos depois de cada clique? O que fica marcado no sentimento por ter passado por tal experiência? E para nós que consumimos essas imagens, o que fica marcado em nossas mentes?

E uma das tantas justificativas para a violência é o “incontrolável desejo que homens sentem”. Parece romântico, né? Mas, não é! Assim, muitas e muitas mulheres compram esse discurso de que violência é sinônimo de amor, desejo, de que são belas, atraentes e, por isso, são amadas. Muitas mulheres sofrem em silêncio na confusão imatura ou desinformada e , muitas vezes, não sabem distinguir a diferença do que seja amor e agressão. Afinal, fica tão bonito a cena na novela, fica tão elegante gigantes publicidades nos aeroportos e nas capas das revistas com gente famosa. Como tudo isso pode estar errado ou mal-intencionado?


Calvin Klein reproduz abertamente uma cena de estupro para “vender roupa”


Capa da revista Vogue francesa
Em 2013, o estilista libanês Johnny Farah promovendo sua linha de bolsas
Famoso estilista de roupa para homens



O fotógrafo indicano Raj Shetye reproduziu em foto publicitária, o estupro coletivo que matou a  jovem Nirbhaya, em Deli, em 2013. Um problema tão grave enfrentado pelas mulheres indianas diariamente usado de modo banal. Felizmente a reação foi imediata, as fotos foram classificadas como “nojentas” e “horríveis”.


O premiado diretor teatral Gerald Thomas, durante o lançamento do seu livro. No mínimo constrangedor, não?

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