Elídio, o homem da Sanfona


fotos: Paula Ribas

PERSONAGENS DO BAIRRO DA LUZ
Em 2010/2011, fiz diversas matérias sobre o Bairro da Luz para o Blog Apropriação da Luz. Nessa oportunidade, conheci o sanfoneiro e técnico em consertar o instrumento, o Sr. Elídio Lopes. Aos 76 anos, ele tem um pequeno comércio de instrumentos musicais a mais de 30 anos, no bairro da Luz e uma história de vida incrível. 
Em seu depoimento, Sr. Elídio fala sobre os "nóias", do bairro da Luz e seus desafios sociais e, principalmente, pede para não fazer propagada de sua loja "por que não tem tanta sanfona assim para vender". Vale a pena ler e conhecer mais esse personagem que compõem o rico mosaico humano da região central de São Paulo.
Compartilho aqui as fotos e a matéria que escrevi a época, para que a memória não se perca, afim de propagar e valorizar quem trabalha e vive na região central. 

Elídio, o homem da sanfona
"Vê se não divulga muito minha loja. Depois vem um monte de gente e eu não vou ter tanta sanfona para vender."
Hoje tive o prazer de conhecer um trabalhador do bairro da Luz, e a mais de 30 anos conserta e vende sanfonas: o Sr. Elídio Lopes. Ele tem 76 anos, trabalha no bairro da Luz há 30 anos, foi expulso da casa dos pais quando disse queria trabalhar com sanfona e afirmou que “não tem medo dos nóias do bairro”.
O sr. Elídio vem de família de espanhóis, seu pai foi músico toda a vida e quando ele decidiu seguir o caminho da música e, ainda, como sanfoneiro o pai não teve dúvida, expulsou o então jovem Elídio com seus recém completados 18 anos. "Meu pai disse que sanfona não dava futuro pra ninguém e que todo músico era vagabundo. Imagine, trabalhei tanto e estou aqui até hoje trabalhando e com a sanfona", afirma orgulhoso do destino que teve.
Dr. Elídio em sua loja no centro de São Paulo
Em 1953, frequentou por pouco tempo uma escola de música para aprender a tocar, mas não teve condições de continuar. Foi procurar amigos que o ensinaram, mas sua professora sempre foi a intuição. Sua preferência musical? O clássico! "A professora Renata (Sbringhi amiga e frequentadora da loja) toca "O Guarani" de Carlos Gomes, imagine isso, aquela música linda na sanfona", diz inebriado.
Já conhecedor e tocador de sanfona, foi trabalhar na fábrica de sanfona Scavonne onde aprendeu muito sobre a parte material do instrumento. Elídio fez parte de duas bandas e já perdeu as contas de quantas pessoas do mundo musical já passaram ou foram arrumar instrumentos em sua oficina. "Olha aqui vem gente de várias cidades e inclusive de vários países. Sempre recebo os latinos, os argentinos vem atrás de bandoneon (uma espécie de sanfona usada no tango), até os bolivianos vem para conhecer o instrumento", explica orgulhoso em poder dividir esse instrumento tão brasileiro com os  interessados.
Segundo o sanfoneiro não dá para falar de sanfona sem falar da importância das mulheres: 80% dos músicos são mulheres. Quando questiono se ele sabe explicar o motivo da adesão feminina reponde: " Mulher é mais idealista, esforçada para tudo. Porque para ser sanfoneiro tem que querer de verdade".
Perguntei a ele se sabia sobre o projeto Nova Luz, ao que disse: "Olha , seja o que for que queiram fazer, desde que melhorem o bairro tá bom. Gosto daqui, a tradição na música é importante para o bairro e o bairro é muito importante na vida de muitos músicos também".
O que poderiam melhorar, pergunto: "Ajudar essas pessoas a sair das drogas. Nunca aconteceu nada aqui de roubo, essas coisas. Eles (os dependentes químicos) não mexem com a gente, eles ficam na deles, nunca tive problemas com os “nóias".
Ao final da conversa disse: "Sr. Elídio posso tirar uma foto do sr. para colocar no nosso blog, gostaria que muitas pessoas conhecessem a sua história". E ele respondeu:" Só não quero que encha a loja de clientes. Uma vez sai numa revista e veio tanto cliente para comprar sanfona que eu não tinha mais o que vender", respondeu.



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