Acompanhada

Escolher ou ser escolhida?  Minha estante de livros, meu labirinto.



Saio do quarto acompanhada.
Da porta vejo a estante. Paro em frente aos livros e suspiro.
Tiro o marcador de dentro dele e o devolvo à estante.
Misturo os livros lidos com os não-lidos.
Terminar de ler um livro é tão “frenesi” quanto se deixar envolver por outro. “Quem me escolherá?”, penso, diante dos meus espectadores. “Que novos personagens aguardam por mim? Que livro resistirá a uma leitora querendo lhe despertar”.
Desfilo em frente às estantes para ser vista por todos. Dos mais escondidos aos visíveis, inclusive os que servem de decoração.
Desfilo, desfilo, e não sou escolhida por nenhum.
Passo os olhos com firmeza e nada. Nenhum me quer.
Vou em busca de novos temas, daqueles que foram comprados e nunca lidos.
“Estou sem tema, acho.”, falo alto para ser mais disponível.
“O que preciso ler não está aqui?”, provoco, e nada. Nenhum se manifesta, nem brilha, nem faz questão.
Passo a criticá-los então. Busco defeitos neles.
“Por que são tantos, então? Para que tantos livros?”, misturo indignação.
Encaro as estantes, fico de frente como quem quer tomar fôlego e mergulhar, e enfim, uma conexão acontece.
Alguns avançam, tentando me seduzir com suas capas, títulos, o texto da orelha ou alguma frase de efeito. Porém, a maioria não me interessa, de fato. “Nem sei por que comprei esse, vou doar sem ter lido”. Vejo outro já começado e falo alto: “Nesse li até a pagina 23 e parei, o marcador está tão amassado que devo ter começado essa leitura muitas vezes. Acho que não deve ser bom mesmo”, concluo sem dar a menor chance a ele.
Uma sensação maravilhosa nasce e morre simultaneamente, voluptuosamente ao tentar conquistá-los. E tragicamente nenhuma química acontece, porque quem me quer eu não quero, e quem eu quero...eu não sei!
Dou a última cartada, vou em busca dos estrangeiros. Mas nenhum, nenhum se manifesta.
Os livros parecem descansar, pausados.
Parei.
Fitei a estante mais uma vez e o único que ainda me chamava atenção era o deixado há pouco. Percebi que ainda vivia a sua estória dele, os personagens não queriam sair de mim, não tinha espaço para algo novo, ainda precisava dele.


Peguei-o novamente, coloquei um novo marcador, desliguei a luz da sala e voltei para o quarto acompanhada do mesmo livro.

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